Monday, April 11, 2016

verbo: ser

e depois, de repente, apercebes-te que já aconteceu, que já passou, que já foi. o instante move-se por si mesmo e agora há que andar para trás, a reboque, violentamente. recuperar tudo, recuperar de tudo. e tudo ao mesmo tempo porque o tempo escasseia. conjugas os tempos verbais todo num abismo, como que acreditando que de alguma forma te reconstituis nessas declinaçoes vadias. corrompes todas as tentativas de cristalizaçao e de ti e da vida. perfuras o mundo. arrancas a alma à dentada. cospes ansiedade e vomitas angústias. bebes ao silencio. fez-se luz e já se faz tarde. recomeçamos amanha, está bem?
a noite já vai longínqua e serena, e tu adoras aquela música que se interrompe furtivamente a cada respiraçao minha, tua, deles. balanças os teus pensamentos na esperança de ganharem outro folego. deparas-te com a tua sombra e percebes que estás nua, afinal. é bom. és tu. sim, finalmente e apesar de tudo, és mesmo (só) tu. que bom. vamos entao agora dormir. bons sonhos. amanha logo se vê.

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