Friday, February 17, 2017

ainda hoje ela refere aquele zumbido nos ouvidos como o mote para a sua vida. Ela passou a viver na surdez, uma surdez existencial, tendenciosa, magnífica! só ouvir o que se quer: que mais poderia ela desejar, afinal? depois de tantas desilusões, atingido esse estádio de nausea e cansaço de tudo e de todos, por que não uma radical surdez? E eis que assim ficou decidido: a partir daquele momento, só iria ouvir o que lhe apetecesse! Mesmo que tal decisao lhe custasse a lucidez que ela tanto prezava, ou a imparcialidade de que ela tanto se orgulhava. Finito tudo isso! a partir de agora ela iria ouvir o que a sua vontade lhe ditasse, numa espécie de autismo existencial voluntário. a partir de agora, ela iria consumir do mundo o que a sua própria existência quisesse. Ela queria sentir a vida a acontecer segundo a sua própria pessoa, cansada que já estava de viver de forma ingénua, por vezes até num misto de sonho e realidade, como que numa segunda dimensao ou camada sem forma que sobrevoava, no tempo e no espaço, o mundo dos outros. A partir de hoje, a vida iria tornar-se no seu libreto pessoal. E elea sentia-se muito feliz por ser, finalmente, a maestrina da sua rotina.

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