Saturday, October 28, 2017

o mundo que já não há-de vir

o mundo que já não há-de vir porque ficou desfeito na minha boca ao tentar pronunciá-lo, em vão. mas não faz mal, provavelmente é melhor assim. quem sabe seja mesmo este o melhor dos mundos possíveis, mesmo que incompossível para nós? perdemo-nos pelo caminho. foi um caminho árduo demais. acontece. gosto do silêncio que entretanto cresceu entre nós, como que uma erva daninha que lentamente se instala, se apodera e passa a ditar o horizonte que a rodeia. gosto deste silêncio, gosto desta vontade do não, gosto deste prazer absolutamente novo para mim da decadência. gosto do fim. gosto de projectar o fim, de o fantasiar, de o vestir a rigor e gosto ainda mais de ir saboreando a sua construção lenta, delicada, que se vai metamorfoseando em dia-a-dia. um dia estarei pronta para morrer definitivamente, para lá destas pequeninas mortes quotidianas. cada dia é um dia, dizem-me. e eu rio cá dentro, alimentando a minha tristeza já resistente aos dias. um dia há-de ser. um dia há-de vir. gostei imenso de todos os possíveis que imaginei. foram porreiros, pá. que desperdício que a vida pode ser! mas vá, um beijo sabe sempre bem e dá um óptimo final. até sempre!

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