é estranha, esta sensaçao de falta de confiança em mim. tento libertar-me dela a todo o custo, mas ela persegue-me que nem loba faminta. imagino cenários, deliro nas minhas emoçoes, entrego-me a tudo e mais alguma coisa, desdobro-me em multiplas perspectivas, até exercito o desencanto pelo mundo e pelas coisas, mas nada! a palavra percorre-me e arranha-me como uma lâmina, por todo o meu corpo, deixando invariavelmente a minha pele arrepiada e a minha alma petrificada. Absolutamente bloqueada, demoro eternidades a processar. vou experimentando a calma, tateando uma qualquer imitaçao de um estado relaxado e descontraído. mas nada! nada! tudo é sofreguidao de calma, pesadelo de felicidade, angústia de amor, ansia de liberdade!
sufoco do próprio bloqueio.
corrijo-me
enervo-me comigo mesma. tento controlar-me!
tem juízo, Catarina! tem mas é juízo!!! descontrai!!!
e quanto mais repito esta lenga-lenga dolorosa e castradora, mais bloqueio, mais me embrenho toda em mim, como se eu fosse ao mesmo tempo a aranha que cospe a teia e se enrola para nela morrer.
e de repente, começo a ouvir ainda de forma longínqua o amolador. ha muito tempo que ele nao passava por aqui. aquele som invade-me como uma espécie de sopro de vida, um sopro de um outro tempo, um tempo do mundo, um tempo que acontece fora de mim e me define como a minha própria dobra. e eu relaxo e eu entrego-me e eu amoleço e eu deixo-me suavizar pela sua brisa e eu torno-me dócil à força da vida e eu deixo-me domesticar por ela e eu entrego-me nua de olhos bem vendados, fazendo daquela melodia o ritornelo do meu prazer agora redescoberto.
sim, existo. sim, sou para lá de mim. sim, tenho um minimo de confiança, afinal, outra vez, apesar de tudo e finalmente.
Tuesday, September 16, 2014
Tuesday, September 09, 2014
prescrevi ou existencia fora de prazo
Hoje acordei com uma sensação meia estranha entre o enjoo/náusea
e a tristeza. Era uma sensação inédita para mim. Lá me sentei, tomei o
pequeno-almoço e fui ver as novidades na internet. Mas a sensação continuava.
Mantinha-se igual, num estado de latência morna.
Tentei não dar muita importância, imaginando que aquela
sensação se dispersaria por si mesma. Mas nada! Tudo se mantinha, se é que não piorava
até. Estava definitivamente a sofrer de uma crise existencial!
Foi então que de repente uma frase me invadiu a atenção:
prescrevi. Eu pres-cre-vi! Eu própria, enquanto pessoa, prescrevi! Passei do
prazo, kaput! Estou estragada, podre, prescrevi!!!
Não foi um processo exterior a mim, não foi uma multa, não
foi um medicamento, não foi uma relação qualquer que tivesse acabado, não! Nada
disso! Fui eu mesma que prescrevi. Prescrevi…
Thursday, September 04, 2014
tu que me defines
Quase todos os dias acontece-me o mesmo: vagueio pela minha
cabeça, à procura de alguma
coisa-que-nem-sei-bem-o-que-é-mas-é-provavelmente-importante-senao-não-a-procurava-todos-os-dias.
É isto que me acontece e é esta a melhor definição que tenho para aquilo que
procuro. A exactidão nunca foi um dos meus fortes e o tempo escorrega-me das
mãos como agua, pelo que me vou deixando ficar, encostada à curiosidade, como
quem descansa sossegadamente nos ombros de um gigante, sabendo que a vista será
sempre magnífica. Sim, não é por acaso que digo gigante, porque sempre adorei
subir aos ombros de gigantes! Tenho esse péssimo habito desde pequenina e creio
que é devido a ele que eu não me consigo adequar à vida e a estas coisas a que
chamam leis e normalidade. Acho isto tudo muito imoral e desinteressante. E o
problema é que sempre fui uma aficcionada de tudo o que está para lá do bem e
do mal, e das suas regras e costumes. É tao bom explorar os limites, não é?
Enfim, mas dizia eu que procuro incessantemente algo que nem
sei o que é. E isso provoca em mim uma dúvida enorme, diria mesmo irresolúvel,
porque eterna: como procurar algo que se desconhece? Ou será que o facto de
procurar algo já significa que se encontrou esse algo, mesmo que ainda só de
forma virtual? Serei eu platónica e portanto condenada ao fracasso da minha
busca ou uma deleuziana e portanto feliz por me saber emaranhada numa teia
virtual de acontecimentos possíveis e de encontros improváveis?
E neste processo meio cartesiano de exploração de mim como
essa espectadora da sua própria descoberta, redescubro um novo prazer: o de me
deixar seduzir pela perdiçao, o de me deixar conduzir pelas tuas mãos, o de me
perder no teu olhar e sentir-me de novo no leve toque dos teus lábios que
entretanto percorrem sofregamente todos os meus recantos e me indicam o caminho
da fusão dos nossos corpos e de toda a cadencia violenta com que me redefines.
Wednesday, September 03, 2014
amor de morte
Diz-me: achas que te faria feliz? Terias sido mais feliz se
tivesses vindo comigo? Se tivéssemos experimentado viver juntos? Se tivéssemos,
no fundo, dado alguma hipótese ao nosso amor? Ou será que o nosso amor se teria
alterado e quem sabe destruído assim que deixasses a tua família? Será então que
o nosso amor perdura porque foi ou tem sido impossível? E os nossos beijos? O que
fazer com os nossos beijos??? Beijar outros e outras na esperança que sejam os
nossos? É isso? Passar a vida inteira nesta impossibilidade, mante-la como o
nosso grande animal de estimação. Amor como bibelot, amor como fétiche, amor
como aquele pequeno detalhe que nos anima por dentro mas que não podemos
partilhar com mais ninguém. É isso que sentes? É isto que queres? É que para
mim o amor é para ser vivido intensa e livremente! Quando encontro alguém que
amo, gosto de estar com essa pessoa, é com ela que quero partilhar a minha
vida, as minhas alegrias e dificuldades, suspiros e gemidos, cheiros e
vivencias! Amar, para mim, é partilhar!! Só assim consigo amar! Sem mentiras,
sem disfarces, sem medos!
Mas ok, manteremos esta dúvida para sempre, até ao dia em
que te for buscar ao hospício, ambos já velhos, para então vivermos o nosso
amor para morrer.
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