Quase todos os dias acontece-me o mesmo: vagueio pela minha
cabeça, à procura de alguma
coisa-que-nem-sei-bem-o-que-é-mas-é-provavelmente-importante-senao-não-a-procurava-todos-os-dias.
É isto que me acontece e é esta a melhor definição que tenho para aquilo que
procuro. A exactidão nunca foi um dos meus fortes e o tempo escorrega-me das
mãos como agua, pelo que me vou deixando ficar, encostada à curiosidade, como
quem descansa sossegadamente nos ombros de um gigante, sabendo que a vista será
sempre magnífica. Sim, não é por acaso que digo gigante, porque sempre adorei
subir aos ombros de gigantes! Tenho esse péssimo habito desde pequenina e creio
que é devido a ele que eu não me consigo adequar à vida e a estas coisas a que
chamam leis e normalidade. Acho isto tudo muito imoral e desinteressante. E o
problema é que sempre fui uma aficcionada de tudo o que está para lá do bem e
do mal, e das suas regras e costumes. É tao bom explorar os limites, não é?
Enfim, mas dizia eu que procuro incessantemente algo que nem
sei o que é. E isso provoca em mim uma dúvida enorme, diria mesmo irresolúvel,
porque eterna: como procurar algo que se desconhece? Ou será que o facto de
procurar algo já significa que se encontrou esse algo, mesmo que ainda só de
forma virtual? Serei eu platónica e portanto condenada ao fracasso da minha
busca ou uma deleuziana e portanto feliz por me saber emaranhada numa teia
virtual de acontecimentos possíveis e de encontros improváveis?
E neste processo meio cartesiano de exploração de mim como
essa espectadora da sua própria descoberta, redescubro um novo prazer: o de me
deixar seduzir pela perdiçao, o de me deixar conduzir pelas tuas mãos, o de me
perder no teu olhar e sentir-me de novo no leve toque dos teus lábios que
entretanto percorrem sofregamente todos os meus recantos e me indicam o caminho
da fusão dos nossos corpos e de toda a cadencia violenta com que me redefines.
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