é estranha, esta sensaçao de falta de confiança em mim. tento libertar-me dela a todo o custo, mas ela persegue-me que nem loba faminta. imagino cenários, deliro nas minhas emoçoes, entrego-me a tudo e mais alguma coisa, desdobro-me em multiplas perspectivas, até exercito o desencanto pelo mundo e pelas coisas, mas nada! a palavra percorre-me e arranha-me como uma lâmina, por todo o meu corpo, deixando invariavelmente a minha pele arrepiada e a minha alma petrificada. Absolutamente bloqueada, demoro eternidades a processar. vou experimentando a calma, tateando uma qualquer imitaçao de um estado relaxado e descontraído. mas nada! nada! tudo é sofreguidao de calma, pesadelo de felicidade, angústia de amor, ansia de liberdade!
sufoco do próprio bloqueio.
corrijo-me
enervo-me comigo mesma. tento controlar-me!
tem juízo, Catarina! tem mas é juízo!!! descontrai!!!
e quanto mais repito esta lenga-lenga dolorosa e castradora, mais bloqueio, mais me embrenho toda em mim, como se eu fosse ao mesmo tempo a aranha que cospe a teia e se enrola para nela morrer.
e de repente, começo a ouvir ainda de forma longínqua o amolador. ha muito tempo que ele nao passava por aqui. aquele som invade-me como uma espécie de sopro de vida, um sopro de um outro tempo, um tempo do mundo, um tempo que acontece fora de mim e me define como a minha própria dobra. e eu relaxo e eu entrego-me e eu amoleço e eu deixo-me suavizar pela sua brisa e eu torno-me dócil à força da vida e eu deixo-me domesticar por ela e eu entrego-me nua de olhos bem vendados, fazendo daquela melodia o ritornelo do meu prazer agora redescoberto.
sim, existo. sim, sou para lá de mim. sim, tenho um minimo de confiança, afinal, outra vez, apesar de tudo e finalmente.
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