Tuesday, July 10, 2012

outro texto de janeiro 2010

queres então saber o que sou, é isso? e perguntas-me assim, do nada e como se nada fosse? pois bem, sou. sou aquela que te ama, sou aquela que te deseja sem fim, sou puro desejo de ti. sou também vermelho, um vermelho sangue, quente, escaldante, mas também índigo inquietante e misterioso e por vezes branco relaxante e calmo e ainda amarelo alegre e forte. sou acorde e dissonância, sou estilhaçamento das regras, sou absoluta entrega. sou perfume comestível, daquele que desperta imediatamente a ânsia de um pescoço. sou curiosa, muito, muito curiosa. sou gulosa. sou renda, mas também seda, algodão e caxemira. sou um livro com algumas páginas arrancadas à força, outras mal e bem escritas, outras ainda por escrever. sou impulso. sou manhã. sou morena, toda eu sou morena, até a minha alma é morena! sou dança, muita dança. sou ritmo. sou palavra, umas vezes crua, outras vezes crepuscular. adoro ser esdrúxula. também sou outras cores, dependendo da pontuação. sou um misto de papoila e tulipa: papoila porque sei que sou frágil, dócil mas completamente livre. tulipa porque sou carnal, sou corpo, estrutura, forma bem definida e força, muita força. sou terra. sou terra molhada pela chuva quente da trovoada num dia de verão. sou loba, sim, sou mesmo loba. loba-mãe, loba-mulher, loba-animal. sou loba-lolita. sou percurso, caminho, atalho por entre a floresta. sou corpo. sou pequena, pequenina. sou riso (e pouco siso). sou exigente, mas condescendente. sou voz grave e humor agudo. sou sobretudo sentir e pensar e não tanto querer ou exigir. sim, acho que sou perspicaz e rápida. mas também sou languidamente preguiçosa. enfim, sou um bocadinho muito grande ou talvez mesmo completamente paradoxal.
basicamente sou tua.

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