Andamos todos já meio estilhaçados, descrentes absolutos de
tudo, desprovidos de nada, figuras dormentes numa existência cambaleante entre
afectos e medos, reversos do amor, já demasiado escancarados por outras portas entretanto bem trancadas, e
assim vamos andando, com a cabeça entre as orelhas, franzidas, encolhidas,
ressequidas do eco longínquo do beijo e da calma.
Perante este cenário, eu declaro: quero ser o dom quixote do
amor! Quero acreditar! Contra os medos, contra os jogos, contra todas as
defesas, quero dar tudo o que tenho, quero abrir-me à vida e aos afectos!
Não sei como, é que não sei mesmo como, cruzámo-nos neste
campo de batalha já todo desfeito do amor. Corpos doridos por toda a parte, relações
ensanguentadas como trajecto, coraçoes rarefeitos e diminuídos, enfim, todo um
cenário de morte e de pânico perante algo tao doce e lindo, chamado amor. E não
sei mesmo como, aconteceu. Aconteceu conhecermo-nos, aconteceu cruzarmo-nos
quais dois guerreiros do amor e tudo se desenrolou naturalmente. Quase nem foi
necessário falar. Sim, como dois bons amantes-guerreiros, adoramos o silencio
como expressão máxima da cumplicidade. Bastou-nos um olhar, o mesmo com que
hoje nos olhamos cheios de vontade, na transparência rara da verdade.
O mundo renasceu naquele momento. Tu dizias que já não
querias mais relações com ninguem, e eu reconhecia o saldo negativo das minhas
e desejava calma. Tréguas do amor. Mas da forma mais linda porque natural os
nossos corpos uniram-se, fazendo-nos perceber que a calma que tanto
procurávamos estava, afinal, toda ali, neste nosso encontro divino e ancestral. Sim, é por
isso que nos sentimos em casa, nos braços um do outro, sem nada em troca mas
com o mundo todo para oferecer. Porque sim, só assim é que é amar!
Lisboa, domingo, 23 de março, 18h35
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