E afinal parece que não estamos todos uns para os outros.
E afinal, parece também que há que perder ilusões e
rapidamente, porque é urgente crescer e ser-se lúcido!
Que raio de vida, a serio. Tenho saudades dos tempos em que
tudo era realmente possível, em que as conversas sérias e adultas me pareciam
longínquas e quase que de uma outra língua, de uma terra algures muito, muito
distante.
Não faço de todo a apologia da infantilidade! Não desejo minimamente
regressar à infância nem pretendo descobrir nenhuma criança dentro de mim. Nada
disso. Adoro ser trintona e até desejo ser quarentona. Quarentona no meu
melhor! Sem faltas modéstias. E também me imagino com 91 anos, velhota, cheia
de historias para contar aos meus netos.
Mas há qualquer coisa que me inquieta… como se a vida, ao
passar por nós, nos fosse tirando sempre qualquer coisa… nascemos com tudo, sem
formatação alguma, como anémonas disponíveis e alegres, doces e passíveis de
qualquer coisa. Esponjas do melhor!
E depois, aos poucos, vamo-nos elucidando: tornando-nos
lúcidos. Lucidez, acidez, chines. É muito estranha, a lucidez. É a coisa mais
estranha, que se entranha e destrói tudo à sua volta, como a erva daninha.
Merda, sou lúcida!, sim, estou a parafrasear o Pessoa. É uma das melhores
frases da literatura mundial! Também gosto imenso daquela do Beckett: « Dentro em breve estarei, apesar de tudo, bem morto, finalmente».
É o melhor remate para a emancipação da lucidez.
Merda, quero comer todas as madeleines!!!! Quero respirar a
ingenuidade, a esperança parva, a alegria doce, aquela candura ténue da crença
neste mundo! Adoro aqueles momentos em que, num segundo, fazemos uma viagem de
anos, aqueles momentos em que o passado irrompe e rasga o presente e poe-nos a
palpitar sem gravidade. Quero voltar a provar a vida sem pensar em mais nada,
sem medir nada, sem pesar nada, sem matemática alguma! Que se foda a lógica,
porque o que eu quero é poesia!
Atirem-me loucura em estado liquido ou outro qualquer! Quero
afundar-me na alegria sem peso ou medida. Não há nada a priori por aí?
Domingo, 9 de Fevereiro 2014, 14h18
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