Tuesday, December 18, 2012

(eternas) atemporalidades

hoje estou a precisar mesmo, mesmo de um pouco de futuro, um pouco de avanço no tempo, um pouco de depois... um pouco do que vier a seguir, como quem anda para a frente um filme. o meu presente, neste momento, está demasiado pressionado pelo passado, um passado que me atormenta. hoje não quero o agora!! hoje não quero este presente, nem o teu presente, nem o nosso presente!! acabou-se o presente!
quero resgatar o meu futuro! quero cria-lo, a partir de hoje. pronto. acabou-se o passado, a contar deste preciso instante. acabaram-se as ilusoes! ja chega de passado!!! so quero futuro. o futuro é hoje! sim, o meu futuro é hoje! hoje vou cumprir o meu futuro!
telefonas-me amanha?

Tuesday, July 10, 2012

não sei porquê nem como, mas hoje regressei a este meu blogue. Depois de tanto tempo, depois de tanto esquecimento, ele invadiu-me a memória e a saudade de vir aqui escrever. Sabe-me bem regressar (já não é a primeira vez que regresso...). Esta noite sou minha, apenas minha. Dedico-me a mim e escrevo-me para mim mesma, sabendo que sou pública, neste preciso acto de me escrever num blogue. Sou palavra, logo sou acto, logo sou pública. O meu regresso foi cortante: decidi publicar alguns rascunhos que tinha guardados desde a última vez que aqui vim, já lá vão 2 anos... para quê guardá-los? mas o tempo voa, e um dia espero regressar aqui já com uns 91 anos, idade em que tudo nos parece já remoto. Hoje despedi-me de mim, na certeza de me saber longínqua. Hoje espreitei Lisboa e sonhei o mundo todo que tenho em mim. Hoje apercebi-me de que a solidão nunca está só, porque eu a acompanho em permanência. Hoje estou triste. Hoje morreu uma parte de mim, o que significa sempre um renascer. Despedi-me de ti, sim, de ti, tu que não me lês mas que falas comigo. Vou agora dormir. Este texto não está bom nem acabado. Mas hoje é dia de publicar e de não deixar nada como rascunho. A vida é experimentação e eu quero experimentar-me a mim mesma. um beijo a mim! dorme bem

21 maio 2010

Houve um dia em que foi assim. Não disse nada, não falou sequer. Escuridão completa. E o coração chorou desalmadamente, coitado. Sem refúgio, sem abrigo, sem qualquer carinho. Simplesmente abandonado, como se de lixo se tratasse. Aquele coração tinha sido deixado com a mesma frieza e racionalidade com que se despejam cartões para reciclagem. Assim, sem mais nem menos. Sem explicação. Sem um beijo sequer. Assim mesmo.


Aquele coração sangrou, sofreu, esperneou. A raiva começara já a dominá-lo, mas depois percebeu que não valia a pena. era um caso perdido. Não valia essa pena, pois era mesmo só pena o que ele poderia sentir...


texto de 5 julho de 2010

Hoje renasci. Entreguei-me ao mar, nua, cantando, exaltando-me. Logo pela manhã o mar chamou-me e eu obedeci. Fui dele. De uma forma quente, violenta e líquida. Hoje fui mar.

texto de fevereiro de 2010

a escrita é algo de muito bizarro. um dia comecei a escrever um texto sobre o tempo em Proust e passei semanas a fio com insónias e com aquela sensação de desfasamento cronológico que nos surge quando dormimos demais ou de menos. para além disso, perdia-me na observação das pessoas todas à minha volta: a senhora que acompanhava o seu bolo com um chá do outro lado de uma janela, uma bicicleta que passava a toda a velocidade, pisando uma poça e que por milésimas de segundo molhou os sapatos azuis da pessoa que estava à minha frente em vez dos meus, a costura da saia de uma mulher que teimava em desce-la (nota: nunca percebi este comportamento tipicamente feminino, uma espécie de arrependimento na praça pública quanto ao tamanho curto da saia que, afinal, se decidiu usar em frente ao espelho), o sorriso divino de uma menina no baloiço do jardim infantil, enfim, tudo era causa de prolongamento intemporal do tempo, de um entrelaçar ambíguo entre o presente, o passado e o futuro, até porque, no meio dessas observações, muitas vezes se impunham, tão nitidamente quanto as imagens actuais, momentos do passado, fazendo do próprio momento uma realidade quase mais fotográfica do que a antiga.
uma outra vez comecei um artigo sobre o masoquismo em Deleuze e dei por mim a denegar o próprio texto, a não conseguir acabá-lo por uma vontade quase sarcástica de fracassá-lo. e assim foi: nunca o cheguei a acabar, apesar de estar quase, quase terminado. suspendi-o a tempo de nem sequer poder regozijar-me com ele. e agora olho para esse artigo e sinto invariavelmente uma vontade de submissão total como que pedindo envergonhadamente perdão pelo falhanço, pela suspensão da sua realização plena e feliz.
quando escrevi um texto sobre o conceito de acontecimento, delirei por completo! não consegui aceitar a banalidade, a resignação e a comiseração da vida e das pessoas em geral. Mergulhei no Bob Dylan e meti-me no carro sem destino (a gasolina acabou simbolicamente numa rotunda algures por aí...).
entretanto, comecei a ter medo de escrever, medo de ficar presa para sempre a estas situações próprias da escrita. tenho medo, pois sei que ao escrever, me entrego às palavras e entro em devir-texto. não que eu queira ou precise de me sentir autora, subjectividade que domina a escrita. nada disso. simplesmente, ganhei um certo receio em escrever...
ainda pensei dedicar-me a escrever sobre iluminismo e encontrar uma fuga! mas dei por mim a já nem me reconhecer nas ideias tão bem organizadas e sempre universais (o predomínio da razão é algo que consegue ser muito, mas mesmo muito aborrecido). nunca precisei tão absolutamente do contingente, do acaso, do estranho! foi então que deslizei para o romantismo, tentando recuperar o sublime! foi a melhor época da minha vida! sentia cada trovoada como um fluxo directo do coração! viajei até à India em busca de especiarias! Mas logo me fartei do Chopin.

a inevitabilidade do acaso - frase de março de 2010

Hoje li que o acaso só acontece para mentes preparadas. que lindo!

outro texto de janeiro 2010

queres então saber o que sou, é isso? e perguntas-me assim, do nada e como se nada fosse? pois bem, sou. sou aquela que te ama, sou aquela que te deseja sem fim, sou puro desejo de ti. sou também vermelho, um vermelho sangue, quente, escaldante, mas também índigo inquietante e misterioso e por vezes branco relaxante e calmo e ainda amarelo alegre e forte. sou acorde e dissonância, sou estilhaçamento das regras, sou absoluta entrega. sou perfume comestível, daquele que desperta imediatamente a ânsia de um pescoço. sou curiosa, muito, muito curiosa. sou gulosa. sou renda, mas também seda, algodão e caxemira. sou um livro com algumas páginas arrancadas à força, outras mal e bem escritas, outras ainda por escrever. sou impulso. sou manhã. sou morena, toda eu sou morena, até a minha alma é morena! sou dança, muita dança. sou ritmo. sou palavra, umas vezes crua, outras vezes crepuscular. adoro ser esdrúxula. também sou outras cores, dependendo da pontuação. sou um misto de papoila e tulipa: papoila porque sei que sou frágil, dócil mas completamente livre. tulipa porque sou carnal, sou corpo, estrutura, forma bem definida e força, muita força. sou terra. sou terra molhada pela chuva quente da trovoada num dia de verão. sou loba, sim, sou mesmo loba. loba-mãe, loba-mulher, loba-animal. sou loba-lolita. sou percurso, caminho, atalho por entre a floresta. sou corpo. sou pequena, pequenina. sou riso (e pouco siso). sou exigente, mas condescendente. sou voz grave e humor agudo. sou sobretudo sentir e pensar e não tanto querer ou exigir. sim, acho que sou perspicaz e rápida. mas também sou languidamente preguiçosa. enfim, sou um bocadinho muito grande ou talvez mesmo completamente paradoxal.
basicamente sou tua.

texto de janeiro 2010

Aquilo que só sou

Queres que te diga o que sou?
Sou só boca para te beijar,saborear e morder a tua
Sou só ouvidos para escutar obsessivamente a tua voz pronunciando o meu nome
Sou só nariz para te cheirar, cheirando o meu cheiro impregnado no teu e cheirar os nossos corpos juntos
Sou só olhos para cruzarem os teus e deles nunca mais saírem
Sou só corpo para se fundir no teu e aí deixar-se ficar
Sou só pernas para se entrelaçarem nas tuas, como raízes
Sou só ancas para receberem as tuas, escancaradas.
Sou só pescoço para tu morderes, dobrando-se, inclinando-se, torcendo-se para o sufocares
Sou só cabelos para os agarrares e puxares para ti,
Sou só braços para te abraçarem, como teu refúgio permanente, com o carinho de um mundo inteiro
Sou só mãos para te percorrerem e se entrelaçarem nas tuas.

Sou só coração que bate por ti
Sou só estômago com fome de ti
sou só pulmões que sufocam por ti
sou só rins que purificam o meu desejo por ti
sou só fígado que me consome de ti
sou só pensamento que te lê
sou só imaginação que te fantasia
sou só razão que se entontece de ti
sou só sensibilidade que te experimenta
sou só entendimento que te persegue
sou só moral sem regras de ti
sou só ética sem princípios de ti
sou só vontade em estar contigo
enfim, sou só desejo de ti.

texto de outubro de 2010

Preciso de me ensurdeceder. Deixar-me invadir por um som que me altere, que me imobilize por completo e que me asfixie todo o pensamento. Preciso do nada, do vazio do barulho ensurdecedor. Uma cacofonia que faça sentido no caos da minha vida! A solidão a que cheguei, o meu estado hermético e silencioso anseia furiosamente um eco cheio, uma voz poderosa que cante, uma música infindável que transporte ao colo todo o meu corpo pesado.
Preciso urgentemente de barulho pois estou a ficar surda. O meu estado obsessivo está a fazer de mim uma autista voluntária, pelo menos consciente. Quero comer a vida toda aos bocados, às trincas, mordê-la no seu melhor, e no entanto fecho-me sobre mim, em mim, como se não conseguisse sequer mastigar, como se eu fosse um vazio de dentes para morder e de estômago para ruminar. Toda eu sou corpo vazio, corpo esvaziado pela mente, absorvido pela compulsão psicótica de uma necessidade primária de amar.
Tenho dentro de mim um único órgão gigantesco: amor. Tenho uma capacidade infinita para amar e isso destrói-me. Não por si, mas por não encontrar quem o queira receber de livre vontade, sem nada em troca, só mesmo pelo prazer de o receber. Há sempre tantos atritos, tantos preconceitos, tantas ideias fixas e regras de merda, que não consigo deixar este amor imenso fluir naturalmente. Só encontro obstáculos! Cheguei a este estado lastimável de querer absolutamente amar e não o poder fazer porque me proíbem. Dou-me de modo autêntico e verdadeiro, mas fecham-me as portas, dizem-me que tenho de me conter, de compreender que nem tudo é perfeito, de perceber a realidade, de encarar as dificuldades. Porra! Tanta miséria de espírito! Não haverá por aí alguém que queira viver a 1000km/h, de violar as regras e a vida, de ir ao limite comigo? Serei a única que quero alimentar-me do impossível porque todos os possíveis são demasiado pequenos para mim?
Eu quero amar, amar perdidamente, já dizia a Florbela Espanca. Ela era Espanca porque espancava a vida! É isso que devemos fazer: em vez de deixarmos a vida lixarmo-nos os esquemas todos, somos nós que a devemos violar, infringindo-a. Rebentar com ela. Esgotá-la! Degustá-la como um corpo macio, jovem, rijo de uma mulher apetitosa. Eu quero fazer amor com a vida, mas sem preservativo. Quero engravidar e ter muitos filhos dela. Mas isso só se consegue num processo paradoxal: engravidar da vida é o mesmo que engravidar a vida, fazer dela mais do que ela própria imaginou ser capaz. É um acto extremo, é um levar aos limites do pensável e do possível. É um pacto connosco e com a vida que nos pode levar à loucura e à exaustão caso não seja bem sucedido. Mas eu não quero morrer sem fazer esse pacto. Aliás, já o fiz. Para sempre.
Viver no risco, por amor. Perder-me por amor. Enlouquecer pela vida. Encontrar-me.