Tuesday, November 29, 2016

ritornelo ou poema-corrente

voa e canta e dança e ama e ri e volta a cantar e volta a dançar e volta a cantar e volta a amar e volta a rir porque o importante é viver, é voar, é cantar, é dançar, é amar, é rir, porque a vida faz voar e cantar e dançar e rir e amar quem voa, quem canta, quem ri, quem dança e quem ama a vida e ama amar e dançar e...

Tuesday, November 22, 2016

"em breve estarei morto finalmente apesar de tudo" (Beckett)


estou mesmo assustada com o que se está a passar um pouco por todo o lado, esta subida da extrema-direita, fascista, que se assume com toda a raiva, brutalidade, e acima de tudo extrema ignorância e medo (sim, porque estes fenómenos são apenas expressão de gente muito, muito, mas mesmo muito ignorante, pouco culta, que não sabe bem pensar, que não tem abertura de espírito e que condena à partida a diferença - claro que há sempre uns inteligentes lá pelo meio, mas eu prefiro chamá-los de estrategas raivosos e danados!).
já há vários anos que digo que estamos a viver a III guerra mundial, mas de fatinho e gravata. a austeridade nao foi senao a sua manifestação não-bélica, conseguindo mesmo matar fisicamente muita gente e deixando as sobreviventes miseráveis. sim, sim: a economia da austeridade mata. mata e esfola! mas o que é arrepiante, é pensar que esta austeridade provocou um monstro: este monstro do fascismo!!

é urgente repensar a europa e, acima de tudo, perceber que a democracia é alérgica à austeridade! e quanto mais penso no que está acontecer com a europa, se por um lado quero imediatamente sair daqui, por outro fico com menos vontade de emigrar, porque sei que se o fizer estarei a contribuir para a desertificação social, económica, política e cultural da europa.
para todos os efeitos somos os pais da europa em que vivemos... talvez nao fosse mau começarmos a ver a europa assim, como a nossa filha, a nossa criaçao!
mais do que nunca, a europa precisa dos seus habitantes, mas de uns habitantes informados e unidos para, precisamente, lutarem por aquela que parece cada vez mais ser uma europa-utopia...

Friday, November 18, 2016

acabo de perceber o quanto sou, afinal, uma Alice no país das maravilhas. Incrivel. ainda estou meia extasiada! mas logo depois surge-me uma inquietação: de que serve, afinal, ser eu?

Tuesday, November 15, 2016

Soundtrack for the world (and to continue to believe in it)

 https://www.youtube.com/watch?v=BlDgQOd3p-0

https://www.youtube.com/watch?v=wEBlaMOmKV4

https://www.youtube.com/watch?v=hwUGJXm02ZQ


Thursday, November 10, 2016

incensos

sempre me fez imensa confusão haver pessoas que não se sabem colocar na perspectiva do outro, que não têm qualquer abertura mental (muitas vezes até se acham super abertas!), que não suportam uma boa discussão, por mais acesa que seja, que fogem a sete pés da confrontação de pontos de vista, de ideias, que preferem não falar ou guardar para dentro, e que desistem face às dificuldades da construção de uma qualquer partilha. viva a diferença, vivam as discussões, vivam até as zangas!, viva a possibilidade do dissenso, do consenso e não-senso. viva tudo e mais alguma coisa, desde que não se chegue ao ponto do ódio e do desrespeito, porque afinal de contas, a liberdade tem sempre um limite: a liberdade do outro.

declaraçao de amor aos amigos

hoje quero (e preciso!) escrever aos meus amigos. nao aos virtuais (sorry, guys), mas aos íntimos, àqueles que me conhecem verdadeiramente. tudo o que vou dizer vai soar a lamechice, mas todas as declaraçoes de amor sao ridículas e esta é, sem dúvida, uma declaraçao de amor aos meus amigos mais chegados.
quero que eles saibam algo que no fundo ja sabem, mas que é sempre bom repetir e ouvir de novo: estou-lhes eternamente grata por fazerem parte da minha vida, por partilharem comigo os seus problemas, as suas merdas, os seus defeitos, exactamente como eu partilho com eles os meus defeitos, as minhas merdas, os meus arrependimentos, os meus problemas. os amigos sao a nossa 2a família e cada vez mais sinto isso na pele: os amigos sao aqueles que nunca nos abandonam porque nos conhecem integralmente, para o bem e para o mal, e precisamente por isso, nos amam incondicionalmente. é acima de tudo esse amor incondicional que eu procuro e quero na minha vida. só sei amar assim, aliás. a minha filha, a minha mae, o meu pai, a minha irmã, o meu namorado e os meus amigos. quero-vos dizer, meus queridos amigos, que vos adoro e amo incondicionalmente!! sei que sou chata, que vos inundo às vezes com os meus desabafos (sei que nao é la muito fácil aturar-me, eu sei), mas quero que saibam o quanto é para mim vital que exista o nosso mundo, esse pequeno ninho onde somos transparentes uns para os outros, onde partilhamos a 100% as nossas parvoíces, os nossos erros, as nossas alegrias e loucuras!
já recebi muitas declaraçoes de amor. mas de facto, as declarações de amor que recebi dos meus amigos sao tao genuínas que se tornam pilares da minha vida!!
adoro-vos, meus queridos amigos!!! amo-vos!!! que bom existirem na minha vida!!! que bom!!!!! um imenso abraço do tamanho do mundo todo.
vossa, absolutamente vossa,
Catarina
p.s. nao pus nomes na minha declaraçao de amor aos amigos porque os visados sabem perfeitamente que o sao

Wednesday, November 09, 2016

god trumps america!

estou em choque. ontem fiquei até às 2 da manha a trabalhar e a acompanhar as eleiçoes. deitei-me e a perspectiva ainda era minimamente animadora. hoje acordo, com vários telefonemas, incrédulos a informarem-me do horror. parecia que me ligavam para dar conta da morte de alguem próximo. mas como eu estava meia a dormir, ainda pensei que fosse um pesadelo, mas nao. hoje foi mesmo dificil acordar e olhar o mundo de novo... realmente, estou de luto. o que mais me arrepia é que, com o Trump, deixou de haver discussão política. finito. é o poder do vazio, do grotesco, do nada. é um submundo mental muito bizarro e perigoso que eu temo imenso a partir do momento em que se tornou simplesmente possível. é surreal de tão mau que é. aliás, acho que nem o próprio Trump acredita que ganhou! ele também está em choque, senão não teria apelado à uniao no seu discurso!

nunca o nome "Casa Branca" me pareceu tão mau como hoje! começo a achar que há uma qualquer matemática do horror lá nos EUA: foi o 11/9 e agora o 9/11... que coincidência estranha e arrepiante! como se não bastasse, temos o David Duke dos Ku Klux Klan agradece a ajuda de Wikileaks...

a tragédia americana é global e por todo o lado vemos o desespero, a raiva, a estupidez e todos os sentimentos mesquinhos vencer. Sanders, de longe o melhor candidato, ficou-se pelo caminho. Só espero que se volte a candidatar nas próximas eleições. Ou entao a Michelle Obama! enfim, estou a imaginar que essa possibilidade ainda exista daqui até lá, que este horror que está a acontecer dê mais força ao seu contra-movimento... estou em choque a tentar ver alguma luz ao fundo do tunel, acho que é isso... 

já o Deleuze dizia: "Vocation schizophrénique: même catatonique et anorexique, Bartleby n'est pas le malade, mais le médecin d'une Amérique malade, le Médecin-man, le nouveau Christ ou notre frère à tous" (Critique et Clinique, p. 114). enfim, temos muito trabalho pela frente! micropolítica, revoluçao molecular, desejo afirmativo!! entretanto, soube que há um imenso protesto nas ruas de Nova York contra a victória de Trump. será que ainda conseguem acabar com a parvoíce do colégio eleitoral que determinou que Hillary, com mais votos, perdesse? seria tão lindo... sei que é sonhar imenso, mas talvez seja o que mais precisamos agora: sonhar!! sonhar com bons sonhos porque ainda não acordámos deste pesadelo!!!

to all my american friends, my deep condolences... hope to meet you next summer in Canada!!!

Sunday, October 02, 2016

vício-mania

desolação por um qualquer vício, agora que já não tenho nenhum. resigno-me perpetuando a ideia dessa falta de algo. realmente, falta-me um vício, falta-me o vício em si, qualquer que seja. como vou continuar sem vícios? será possível existir sem vício algum?

Friday, August 26, 2016

seria eu?

muitas sao as vezes que passo longos períodos sem sequer me ver ao espelho. é comum, ando sempre ocupada, seja a trabalhar, seja a deliciar-me com tanta coisa linda que a vida nos dá para fazer! também nao perco tempo a escolher o que vestir nem a cuidar muito de mim. fico-me pelo essencial: banho diario a correr e esses outros bons habitos. muitas vezes chego à rua e reparo que estou despenteada ou que tenho uns collants que afinal nao eram da cor que pensava que eram.
mas hoje aconteceu uma coisa engraçada. estava a andar junto a um prédio moderno, com os vidros super limpinhos e quando me olhei no meu reflexo, assustei-me ao ver-me. nao era eu! a serio: nao era mesmo eu. era uma mulher, sim, também já quarentona, estatura muito parecida com a minha, sem dúvida, até tinha também este estilo todo relaxado e descontraído, tenis, mas nao era eu. juro que nao! ok, também era morena, também levava a mala a tiracolo, mas nao era eu, ja disse! simmm, também tinha os dentes um pouco tortos, sobretudo na parte de cima, mas NAO ERA EU!!! quantas vezes vou ter que repetir isto??? ok, sim: também se chamava Catarina, mas nao era eu!!! merda, nao era eu!!! nao podia ser eu...

a voz e o som do silêncio (e da fúria)

o silencio. o sussurro do silencio. o barulho do silencio. o peso do silencio. a gravidade do silencio. o sufoco do silencio. o vazio do silencio e no entanto o corpo todo do silencio! o silencio é matéria, tem massa. portanto, nao me venhas falar de silencio!

poema INconseguido

nao INconsigo ficar neste estado por muito tempo
ha uma qualquer sensaçao de INquietaçao que me INvade
ja me sINto Inlouquecer com tanto INconseguimento!




pomba bombinha

tenho tudo entalado prontinho a explodir. sim, prontinho. bem aconchegadinho. super fofinho.
nao, nao estou a ser cínica. simplesmente sou lúcida e sei que vamos ser apanhados. estamos aqui para morrer, nada mais.

Wednesday, June 29, 2016

problemas existenciais - parte I

É isso: sou órfã de mim mesma! Uau! Que conclusão magnífica para uma quarta-feira de Junho à tarde! (e dito isto, vou agora buscar a minha filha à escola, perguntando-me se ela então é um caso de descendência sem origem, espécie de remake do milagre da criação - desta vez com acto consumado mas sem mãe). Entretanto, talvez seja melhor dedicar-me à botânica depois de comer um bom chocolate.

Thursday, June 23, 2016

viva a imperfeição!

sempre detestei perfeiçoes! a própria ideia é em si mesma um conceito fechado, concluído e portanto limitado, imperfeito! prefiro os erros, amo as imperfeições, e delicio-me com aquele momento em que reconhecemos os nossos limites. é tao bom sermos pequeninos e sabermos que nao vamos a lado nenhum sem algumas pessoas que amamos e que nos amam. somos grandes na medida em que tentamos sempre agir em conformidade com os nossos ideais e princípios. aí somos grandes. mas somos ainda maiores quando nos sabemos fracos e temos a honestidade de perceber que errámos. e olhamos para os erros e queremos nao voltar a repeti-los, porque queremos ser melhores. como dizia o Beckett, always try to fail better! e como dizia uma vez um amigo, apaixonamo-nos sempre pelos defeitos e imperfeiçoes de alguem, quando existe a grandeza do reconhecimento desses defeitos e imperfeiçoes por parte de quem os tem, senao essa pessoa nao passa de burra ou pretensiosa. grande verdade! é tao bom partilharmos as nossas fraquezas...

Thursday, June 16, 2016

dedico-me a uma qualquer arte que não sei bem qual é, mas divirto-me e portanto mantenho-me nessa rotina de eficácia aparente, mas sistemática. os dias passam. as noites páram em frente a mim, olham-me estranhamente e eu desvio o olhar. vou sorrir para o outro lado. planície. licor de maracujá. zumbido nos ouvidos. calafrios. a tua mão aperta-me e toda a nossa história me incomoda. belisca-me. arranha-me. faz-me mal.
nao, soldado incognito, nao és tu, apesar de tudo. a guerra já terminou. os russos já chegaram e nós teremos sempre Paris! o problema nao és tu. é o outro. sim, o outro. sim, ainda o outro. sim, esse. pois, ainda esse! ok, mas o que queres que lhe faça? nao sou budista, nao acredito em pessoas  boazinhas e a cena positiva bem que pode ir para o camandro!, mas também nao consigo desfazer-me dele assim, percebes?
vá, lê-me umas páginas do Dostoievski e cala-te de vez!

Wednesday, June 15, 2016

noite a céu aberto

sentada no sofá, depois de um dia longo e longo de lindo e lindo de longo, relaxo a olhar para a lua que está quase farta. é sempre tao bom olhar para o céu! por que será? nao pretendo responder. apetece-me ficar na pergunta, bem mais aberta e livre do que qualquer resposta possível.
e a vida vai sendo isto: encontros felizes. e a noite entretanto é linda e longa de linda e linda de tao longa. boa noite.

Thursday, May 26, 2016

a força das coisas

https://www.youtube.com/watch?v=7VBex8zbDRs

Saturday, May 07, 2016

eis-me depois de morta

agora já posso morrer. já estou preparada para morrer. sim, afinal de contas é disso que se trata. poder morrer, finalmente, apesar de tudo, depois de tudo. separar-me de tudo, separar-me das minhas amarras, separar-me acima de tudo de mim.

Monday, April 11, 2016

verbo: ser

e depois, de repente, apercebes-te que já aconteceu, que já passou, que já foi. o instante move-se por si mesmo e agora há que andar para trás, a reboque, violentamente. recuperar tudo, recuperar de tudo. e tudo ao mesmo tempo porque o tempo escasseia. conjugas os tempos verbais todo num abismo, como que acreditando que de alguma forma te reconstituis nessas declinaçoes vadias. corrompes todas as tentativas de cristalizaçao e de ti e da vida. perfuras o mundo. arrancas a alma à dentada. cospes ansiedade e vomitas angústias. bebes ao silencio. fez-se luz e já se faz tarde. recomeçamos amanha, está bem?
a noite já vai longínqua e serena, e tu adoras aquela música que se interrompe furtivamente a cada respiraçao minha, tua, deles. balanças os teus pensamentos na esperança de ganharem outro folego. deparas-te com a tua sombra e percebes que estás nua, afinal. é bom. és tu. sim, finalmente e apesar de tudo, és mesmo (só) tu. que bom. vamos entao agora dormir. bons sonhos. amanha logo se vê.

Saturday, March 19, 2016

dia do pai

Pai-Osso que estás nos breus, danificado seja o Vosso nome.

Venha a vós o Vosso (próprio) peido.

Seja feita a Nossa vontade, assim na terra como nos véus.

O pão grosso de cada dia nos vomitai hoje.

Gozai as nossas oferendas assim como nós lidamos com quem nos tem fodido.

E não nos deixeis cair em contenção, mas livrai-nos do sal.

ya-men.

- Jesus Chisto Super Star (Mateus Rosé, 6:9-13)

Friday, January 29, 2016

ossos do orifício ou relatos de uma investig-a-dora

aquele momento em que, depois de teres realizado o impossível, fazes um chá "noites tranquilas" na esperança de poderes finalmente dormir em paz, porque, afinal, já são sete da manhã e ainda não paraste.
E eis senão quando, dizes bom dia à tua filha que te responde: eu não cheguei ainda a acordar.
É aí que percebes que, afinal, a Filosofia faz todo o sentido e que vale mesma a pena continuar a tomar café.