Tuesday, August 11, 2015

Silly Season

em plena silly season, apetece-me escrever sobre política. o nosso querido mês de agosto parece ser o ultimo suspiro antes da catástrofe anunciada para a rentrée das eleições! ir até à praia é quase um gesto de descompromisso, de inconsciência, ou de uma lucidez um pouco adiada. acho mesmo que nunca vivi um verão tão literalmente silly e por isso mesmo hoje decidi escrever sobre política, esse bicho papão de que tantos fogem a sete pés (nunca percebi como é possível tamanha alienação, essa de ser apolítico - refiro-me obviamente aos seres realmente apolíticos e não aos impolíticos à la Thomas Mann).
nao pretendo de todo fazer um tratado político nem uma análise complexa de teoria política! para todos os efeitos, estou, eu também, em modo «silly season» e escrevo este pequeno texto antes de passar o creme solar com factor 30). quero aliás ser bastante concisa e pensar só um aspecto cada vez mais na moda: a dissoluçao da diferença entre esquerda e direita. é obvio que vivemos tempos de tal modo urgentes que é muito mais importante passar à acção concreta de forma a solucionar os inúmeros e gravíssimos problemas com que nos defrontamos do que pensar a diferenciação dos elementos no parlamento. claro. sem dúvida. e também é verdade que a situação é tão escandalosa que até muitos elementos conservadores estão de acordo com os de esquerda e portanto hoje mais do que nunca são possíveis coligações de largo espectro como no Syriza, por ex. claro. de facto, o mapa nao é o território. é necessário olhar para as vidas reais, para a crise no dia-a-dia das pessoas, para os problemas concretos que afectam milhões e milhões de pessoas mais do que olhar para o mapa. sem dúvida.
no entanto, nenhum destes argumentos anula a importância da fronteira entre esquerda e direita. porque se o mapa não é o território, também é verdade que o território se vai construindo a partir do mapa, a partir do ordenamento do território, a partir das ideias que vão organizando e estruturando o próprio território. ora, não chegámos a este ponto senão tivessemos deixado dissimenar, precisamente, as correntes ideológicas de uma certa direita. há um pai desta situação presente: liberalismo económico. e há padrastos, padrinhos e carrascos deste flagelo: Ronald Reagan, Margaret Tatcher, Bill Clinton, Cavaco Silva, só para enunciar alguns. nao teríamos chegado ao estado em que estamos senão nos tivessemos, precisamente, deixado contaminar pelas visões de uma certa direita que pretende destruir todo e qualquer vestígio de estado social, implementar o serviço da misericórdia (qualquer dia voltamos às 5as-feiras salazaristas da esmola!) e reduzir os cidadãos a escravos-do-capital-qualquer-dia-já-sem-qualquer-contrato!
sim, estamos num período histórico em que é necessário ir para além da diferença entre esquerda e direita. sem dúvida! é necessário arregaçar as mangas e agir! sem dúvida! mas é preciso agir com um mapa, com uma orientação e ela não passa de certeza pelos «valores» (imorais) dessa tal direita ou de qualquer outra direita. ela passa necessariamente pelos ideais da esquerda! ela passa absolutamente pela ideia de partilha, de educação e saúde gratuitas, pelos direitos dos trabalhadores, etc, etc. ela passa urgentemente pela restauração dos princípios mínimos da cidadania e pela sua excelência (e não pela sua degradação e nivelamento sempre por baixo como a direita tanto nos quer convencer...).
e dito isto, viva a silly season! boas férias e até sempre camaradas!