Monday, December 14, 2015

hipocondríaca por necessidade

nasci com imensa saúde e vitalidade e isso tem dado cabo de mim! a saúde faz-me mal. muito mal mesmo. e o pior é que a minha alegria inata fez de mim uma hipocondríaca insuportável. sei que tudo isto parece absurdo, mas realmente, constato que quando estou bem (isto é, quase sempre), cometo imensos erros (atrocidades mesmo!!) com a alimentaçao, por ex, ou até com a eterna questao do exercicio fisico. começo por explicar a primeira frase deste texto e logo perceberão também a segunda (que é a consequência - tristíssima, claro - da primeira).

eu tive um problema grave de saúde o ano passado resultado, precisamente, de estar tão bem (aliás, nem podia estar melhor! estava no período rosa fresquinho de consolidação de uma relação amorosa, portanto ultra apaixonada e romântica do pior). porque estava nos sete céus, dei-me a mim mesma o luxo dos prazeres intensos e portanto comi tudo o que me apeteceu! todas as refeições eram iniciadas com um brinde à vida e ao amor com um bom vinho, a comida era confeccionada com todos os condimentos desejados sem qualquer restrição, as sobremesas eram degustadas alarvemente a dois, enfim, umas férias de verão em que o amor foi todo ele bem nutrido a gelados, chocolates, alcool e muito dolce fare niente. fantástico! um prazer desmedido! resultado? crise de vesícula. uma semana de agosto maravilhosa de sol inteirinha hospitalizada de urgência, em jejum radical e doloroso, sem poder sequer beber água! (até me lembro de tantos delírios de visões de oasis em pleno deserto e de acordar com a paranóia de morrer asfixiada sem saliva!).

mas o que foi que então aconteceu comigo depois desta experiência traumatizante na ala feminina do 4º andar do hospital Egas Moniz com uma vista lindíssima sobre o rio Tejo que eu só conseguia vislumbrar quando conseguia levantar-me em aflição para ir à casa de banho? é que precisamente, passei a fazer imenso cuidado comigo! passei a cuidar de mim!!!, feita locutora de voz doce das publicidades pimbas do leite matinal dos anos 90 (para aqueles que se lembram: se eu não gostar de mim, quem gostará? - confesso que foi precisamente a crise de vesícula que me fez entender esta publicidade que durante todos estes longos anos da minha vida nunca tinha realmente percebido).
quando tive alta, anunciaram-me que teria de regressar para ser operada daí a uns tempos. até lá, teria de ser extremamente cuidadosa correndo o risco de regressar às urgências com uma nova crise.
o medo de voltar ao hospital naquele cenário era tanto, que durante os 4 meses que se seguiram de espera, segui à risca, de forma rigorosíssima, todas as recomendações prescritas: absolutamente nenhuma gordura (nem uma gota de azeite em nada!), 1,5 L de agua por dia (este é um dos meus maiores misterios relativamente ao meu corpo. chego mesmo a pensar que sou uma qualquer espécie de cacto, pela falta de sede que tenho e pelos dias inteiros que consigo passar sem me lembrar de beber agua) , evitar o açucar (este foi talvez o meu maior pesadelo até hoje. eu sou extremamente gulosa, costumo comer chocolate diariamente, ponho um pacote inteiro de açucar no café, etc.), preferir peixe e legumes (esta foi a parte mais fácil uma vez que adoro peixe e legumes. mas passados 4 meses realmente ja estava um pouco enjoada), retirar cirurgicamente toda a gordura das carnes brancas... breve: emagreci quase 10 Kg em 4 meses só pela alimentaçao (nem fiz exercicio até porque estava com muito pouca energia)!

a operação correu super bem, obrigada, e passado um mês, já tinha autorização médica para comer de tudo novamente. eis senao quando, esse mês de liberdade coincidiu precisamente com o natal. foi a desgraça. ao nivel da imaginaçao, ainda consegui idealizar uma mestria no auto-controle que se revelou absolutamente falhada. no plano do real, consegui um feito ainda maior que o anterior (emagrecer 10 kg em 4 meses quase sem sair do sofa): engordar 12 kg em 4 meses! foi a loucura total.

concluindo: eu preciso de estar sob tensão, com medo que alguma desgraça me aconteça para me controlar. preciso de estar um pouco menos-eufórica, com a felicidade controlada e limitada para poder tratar realmente de mim. definitivamente: a felicidade faz-me mal. engorda-me imenso! a alegria ataca-me as artérias e entope-me as veias!! não: não posso estar apaixonada loucamente! só um bocadinho, sempre focada no horror-por-vir a qualquer momento. nao posso descansar desse terror. tenho que ser hipocondríaca para ser minimamente feliz e saudavel. tenho que manter um certo nível de terror para conseguir cuidar de mim!
sou hipocondríaca porque amo a vida! amo-a tanto que nao a quero perder, nao quero morrer!

por favor, médicos de todo o mundo uni-vos e dêem razoes reais do meu apodrecimento inevitável de forma a eu ainda me poder salvar e ter uma vida saudável! prescrevam-me uma vida miserável, recheada de regras e abstinências, para eu poder tratar de mim! e tu, vida, vai-me pregando uns sustos de vez em quando para eu me ir lembrando de como é tarefa difícil tomar conta da minha saúde. 

Sunday, December 13, 2015

na vida nao se pode pedir nada!! nem sequer amor... que estranho... é mais facil pedir dinheiro que amor. nao gosto! nao gosto nada disto!

Friday, December 11, 2015

passam-se os meses e continuo a ter o teu fantasma. quase nunca existes, mas às vezes... pergunto-me o que será feito de ti e tudo volta de novo. intensamente.
será que, afinal, aconteceu mesmo?


Tuesday, August 11, 2015

Silly Season

em plena silly season, apetece-me escrever sobre política. o nosso querido mês de agosto parece ser o ultimo suspiro antes da catástrofe anunciada para a rentrée das eleições! ir até à praia é quase um gesto de descompromisso, de inconsciência, ou de uma lucidez um pouco adiada. acho mesmo que nunca vivi um verão tão literalmente silly e por isso mesmo hoje decidi escrever sobre política, esse bicho papão de que tantos fogem a sete pés (nunca percebi como é possível tamanha alienação, essa de ser apolítico - refiro-me obviamente aos seres realmente apolíticos e não aos impolíticos à la Thomas Mann).
nao pretendo de todo fazer um tratado político nem uma análise complexa de teoria política! para todos os efeitos, estou, eu também, em modo «silly season» e escrevo este pequeno texto antes de passar o creme solar com factor 30). quero aliás ser bastante concisa e pensar só um aspecto cada vez mais na moda: a dissoluçao da diferença entre esquerda e direita. é obvio que vivemos tempos de tal modo urgentes que é muito mais importante passar à acção concreta de forma a solucionar os inúmeros e gravíssimos problemas com que nos defrontamos do que pensar a diferenciação dos elementos no parlamento. claro. sem dúvida. e também é verdade que a situação é tão escandalosa que até muitos elementos conservadores estão de acordo com os de esquerda e portanto hoje mais do que nunca são possíveis coligações de largo espectro como no Syriza, por ex. claro. de facto, o mapa nao é o território. é necessário olhar para as vidas reais, para a crise no dia-a-dia das pessoas, para os problemas concretos que afectam milhões e milhões de pessoas mais do que olhar para o mapa. sem dúvida.
no entanto, nenhum destes argumentos anula a importância da fronteira entre esquerda e direita. porque se o mapa não é o território, também é verdade que o território se vai construindo a partir do mapa, a partir do ordenamento do território, a partir das ideias que vão organizando e estruturando o próprio território. ora, não chegámos a este ponto senão tivessemos deixado dissimenar, precisamente, as correntes ideológicas de uma certa direita. há um pai desta situação presente: liberalismo económico. e há padrastos, padrinhos e carrascos deste flagelo: Ronald Reagan, Margaret Tatcher, Bill Clinton, Cavaco Silva, só para enunciar alguns. nao teríamos chegado ao estado em que estamos senão nos tivessemos, precisamente, deixado contaminar pelas visões de uma certa direita que pretende destruir todo e qualquer vestígio de estado social, implementar o serviço da misericórdia (qualquer dia voltamos às 5as-feiras salazaristas da esmola!) e reduzir os cidadãos a escravos-do-capital-qualquer-dia-já-sem-qualquer-contrato!
sim, estamos num período histórico em que é necessário ir para além da diferença entre esquerda e direita. sem dúvida! é necessário arregaçar as mangas e agir! sem dúvida! mas é preciso agir com um mapa, com uma orientação e ela não passa de certeza pelos «valores» (imorais) dessa tal direita ou de qualquer outra direita. ela passa necessariamente pelos ideais da esquerda! ela passa absolutamente pela ideia de partilha, de educação e saúde gratuitas, pelos direitos dos trabalhadores, etc, etc. ela passa urgentemente pela restauração dos princípios mínimos da cidadania e pela sua excelência (e não pela sua degradação e nivelamento sempre por baixo como a direita tanto nos quer convencer...).
e dito isto, viva a silly season! boas férias e até sempre camaradas!

Wednesday, July 29, 2015

a crise da crise

a crise perguntou à crise quanta crise a crise tem. a crise respondeu à crise que a crise tem tanta crise quanto a crise a crise tem.