Monday, October 27, 2014

a infelicidade como um estado de coisas

sim, tenho muitos amigos, sim, os meus amigos sao grandes amigos, daqueles que estao lá para ti quando mais precisas, sim, estou feliz com a minha vida, sim, nao tenho razoes de queixa até porque há sempre pior e bem pior, sim, é verdade, até tem estado bom tempo, sim, ainda há dias recebi aquela boa noticia, sim, em breve farei a tal viagem que tanto desejava, sim, tenho-me aguentado, sim, vivo acima da média do meu país, sim, tenho sido uma privilegiada ao longo da minha vida, sim, tenho a minha família toda comigo, sim, até tenho um namorado super querido e presente, sim, sim, sim!
e nao: nao estou feliz!!! pode ser??? posso dizer que nao estou feliz??? posso???
e sabes porque é que nao sou realmente feliz? é porque nao me sinto útil em nada. tenho um trabalho oco, que poderia servir para multidoes, mas que está cingido a elites pedantes que já vomito pelas tripas da minha alma. poderia depois servir para ser uma boa mae, mas nao tenho essa paciencia. é. é isso mesmo. nestas condiçoes, nao tenho. já nao. vou sendo boa mae, na medida do possível. e isso é desgastante! poderia, em terceiro caso, ser uma boa filha, subserviente, mas parece que o meu carinho nao é suficiente para consolar quem mais precisa... poderia ainda ser uma boa amante, uma boa namorada, sei la!, mas até isso eu sei estragar e destruir tudo porque parece que o amor, definitivamente, nao é para mim. poderia ser uma boa voluntária, ajudar os carenciados, mas nao suporto esmolas e prefiro lutar por um estado social que elimine de vez esta necessidade tao injusta. poderia ao menos ser uma boa dona de casa, mas nao tenho esse perfil. enfim, poderia ser alguma coisa, mas vou sendo coisa nenhuma.
percebes agora o meu estado? entao va, passa-me lá o chocolate.

Friday, October 17, 2014

a metafísica do amor

sim, é verdade, sou mesmo assim. chama-me de ingénua ou infantil, ok, aceito. mas eu quero continuar a acreditar no amor. e sim, para mim amor é transparência e partilha. tudo o resto é bullshit!
e estou pronta a correr o mundo todo à procura desse amor! sim! mas também estou pronta a tudo se encontrar esse amor, aqui. sim, é o amor que me move! sempre foi! nao é o ego, a carreira, os valores-sei-la-de-que, ou ainda pior, o dinheiro. estou-me a lixar para isso tudo em nome do amor. e nao, nao é uma questao de anulaçao de mim! de todo! é o contrário! é que eu so funciono no e com amor, e portanto sei que a filosofia que faz parte de mim, assim como o riso e a gargalhada, a música e a dança e todos os inúmeros e múltiplos projectos que quero realizar, só fazem sentido num contexto do amor.
sim, é tudo muito fatela o que estou a dizer. é. reconheço. mas o amor para mim é uma questao primária da ontologia.

Tuesday, October 14, 2014

poema em tempo de guerra

ando isolada, sem saber do resto do mundo todo que de repente perdi
a guerra separou-nos, a mim, a ti e a toda a gente!
na sua ferocidade, arrancou-nos a ferros do nosso lugar
tornou-nos filhos de um parto dificil e de um aborto ainda mais insuportavel

mas depois, de vez em quando, existes tu, sob a forma de palavra muda
os teus poemas têm chegado a mim sabe-se lá como!
recuperados das trincheiras, salvos do sangue, chegam às minhas maos como que em auxilio
aconchego-os como que repetindo as nossas tardes em que te deitavas sobre mim
e eles devolvem-me essa felicidade perdida, mas ainda quente, de te ter ao meu lado
os teus poemas sao como que o resgate da tua presença. por eles consigo voltar a escutar a tua voz e imaginar os teus labios a proferir cada sílaba
eles recuperam com uma nitidez incrivel os nossos beijos intercalados pelas nossas longas conversas sobre tudo e mais alguma coisa!
os teus poemas acariciam-me como as tuas maos, percorrem o meu corpo com o mesmo prazer com que tu o fazias, e eu sinto-te intensamente através deles...
os teus poemas... os teus poemas és tu e o mundo todo neles!
os teus poemas sao o meu refúgio, o meu lar, a minha memória de vida!
e assim vou sabendo do mundo e assim vamo-nos amando, na cadência das estrofes, por entre a sintaxe dos teus poemas.

Sunday, October 05, 2014

Dormir não é para todos



Madrugar a noite inteira
Destilar o corpo aos pedaços
Ressacar o sono, enebriar os poros e sugar a lucidez. assim. devagar. a conta-gotas
Todo tu és dormente, dormente de ti mesmo, dormente das horas e dos seus sentidos perdidos, dormente de futuro porque todo tu és presente
Afinal, os sinos não dobram por ti e os cavalos abatem-se à força toda, sem piedade
A vida, essa, pode até ser cor-de-rosa, mas deve andar muito manchada ou foi pintada já de outra cor, porque dela já não transparecem quaisquer manifestações de alegrias ou outras sinergias que rimem com belos dias.
E perante isto tudo, tu vais resistindo. Lutas contra o sono numa ânsia de não deprimir, para estimular a loucura e enraivecer a hiperventilação.  Até já estás viciado na insónia e na velocidade do tempo sem tempo. Gostas de testar os limites, não é? Gostas de ir até às ultimas consequências de ti e dos teus actos ao desbarato, não é? A loucura, ai a loucura! Carpe diem e wild world para ti também. On the rocks até!, babe, que eu cá vou mas é dormir.

Thursday, October 02, 2014

meio-dia

tenho que me despachar! tenho que me despachar! tenho que me despachar! mas porque é que nao passo desta frase? mexe-te! vá, mexe-te! abana-te, rapariga! go-go-go! caramba! o que é isto? que inércia é esta??? o que se passa???

onde está a frase seguinte? alguem viu?