Thursday, March 27, 2014

E depois surgiste tu



Andamos todos já meio estilhaçados, descrentes absolutos de tudo, desprovidos de nada, figuras dormentes numa existência cambaleante entre afectos e medos, reversos do amor, já demasiado escancarados  por outras portas entretanto bem trancadas, e assim vamos andando, com a cabeça entre as orelhas, franzidas, encolhidas, ressequidas do eco longínquo do beijo e da calma.
Perante este cenário, eu declaro: quero ser o dom quixote do amor! Quero acreditar! Contra os medos, contra os jogos, contra todas as defesas, quero dar tudo o que tenho, quero abrir-me à vida e aos afectos!
Não sei como, é que não sei mesmo como, cruzámo-nos neste campo de batalha já todo desfeito do amor. Corpos doridos por toda a parte, relações ensanguentadas como trajecto, coraçoes rarefeitos e diminuídos, enfim, todo um cenário de morte e de pânico perante algo tao doce e lindo, chamado amor. E não sei mesmo como, aconteceu. Aconteceu conhecermo-nos, aconteceu cruzarmo-nos quais dois guerreiros do amor e tudo se desenrolou naturalmente. Quase nem foi necessário falar. Sim, como dois bons amantes-guerreiros, adoramos o silencio como expressão máxima da cumplicidade. Bastou-nos um olhar, o mesmo com que hoje nos olhamos cheios de vontade, na transparência rara da verdade.
O mundo renasceu naquele momento. Tu dizias que já não querias mais relações com ninguem, e eu reconhecia o saldo negativo das minhas e desejava calma. Tréguas do amor. Mas da forma mais linda porque natural os nossos corpos uniram-se, fazendo-nos perceber que a calma que tanto procurávamos estava, afinal, toda ali, neste nosso encontro divino e ancestral. Sim, é por isso que nos sentimos em casa, nos braços um do outro, sem nada em troca mas com o mundo todo para oferecer. Porque sim, só assim é que é amar!

Lisboa, domingo, 23 de março, 18h35  

Tuesday, March 11, 2014

mitologias, alergias e outras iguarias

prometeu, epimeteu e quem mais meteu? diz-me la: quem mais, prometeu?

sedimentaçao dos afectos



os afectos são instancias livres e são belos por isso mesmo. valem o que valem, no momento em que existem e poderão sempre ser revisitados de novo num qualquer futuro. mas há uma beleza ainda mais sublime, que é a sedimentação, que nada tem a ver com uma territorializaçao-possessiva, mas antes uma territorializaçao-livre dos afectos. sedimentação no sentido de o afecto se tornar monumento e portanto poder ser partilhado, admirado, ser objecto de prazer. sedimentação por ser um afecto-territorial, um afecto que constrói o seu ninho, que conserva o seu espaço-tempo, que o acarinha. acarinhar o afecto. dedicar-se a ele. ama-lo.

Lisboa, 2ª-feira, 15 de Abril 2013, 8h45, no gabinete da fac.

sedimentaçao dos afectos



os afectos são instancias livres e são belos por isso mesmo. valem o que valem, no momento em que existem e poderão sempre ser revisitados de novo num qualquer futuro. mas há uma beleza ainda mais sublime, que é a sedimentação, que nada tem a ver com uma territorializaçao-possessiva, mas antes uma territorializaçao-livre dos afectos. sedimentação no sentido de o afecto se tornar monumento e portanto poder ser partilhado, admirado, ser objecto de prazer. sedimentação por ser um afecto-territorial, um afecto que constrói o seu ninho, que conserva o seu espaço-tempo, que o acarinha. acarinhar o afecto. dedicar-se a ele. ama-lo.

Lisboa, 2ª-feira, 15 de Abril 2013, 8h45, no gabinete da fac.

Wednesday, March 05, 2014

consideraçoes sobre aprioris e outros is



E afinal parece que não estamos todos uns para os outros.
E afinal, parece também que há que perder ilusões e rapidamente, porque é urgente crescer e ser-se lúcido!
Que raio de vida, a serio. Tenho saudades dos tempos em que tudo era realmente possível, em que as conversas sérias e adultas me pareciam longínquas e quase que de uma outra língua, de uma terra algures muito, muito distante.
Não faço de todo a apologia da infantilidade! Não desejo minimamente regressar à infância nem pretendo descobrir nenhuma criança dentro de mim. Nada disso. Adoro ser trintona e até desejo ser quarentona. Quarentona no meu melhor! Sem faltas modéstias. E também me imagino com 91 anos, velhota, cheia de historias para contar aos meus netos.  
Mas há qualquer coisa que me inquieta… como se a vida, ao passar por nós, nos fosse tirando sempre qualquer coisa… nascemos com tudo, sem formatação alguma, como anémonas disponíveis e alegres, doces e passíveis de qualquer coisa. Esponjas do melhor!
E depois, aos poucos, vamo-nos elucidando: tornando-nos lúcidos. Lucidez, acidez, chines. É muito estranha, a lucidez. É a coisa mais estranha, que se entranha e destrói tudo à sua volta, como a erva daninha. Merda, sou lúcida!, sim, estou a parafrasear o Pessoa. É uma das melhores frases da literatura mundial! Também gosto imenso daquela do Beckett: « Dentro em breve estarei, apesar de tudo, bem morto, finalmente». É o melhor remate para a emancipação da lucidez.
Merda, quero comer todas as madeleines!!!! Quero respirar a ingenuidade, a esperança parva, a alegria doce, aquela candura ténue da crença neste mundo! Adoro aqueles momentos em que, num segundo, fazemos uma viagem de anos, aqueles momentos em que o passado irrompe e rasga o presente e poe-nos a palpitar sem gravidade. Quero voltar a provar a vida sem pensar em mais nada, sem medir nada, sem pesar nada, sem matemática alguma! Que se foda a lógica, porque o que eu quero é poesia!
Atirem-me loucura em estado liquido ou outro qualquer! Quero afundar-me na alegria sem peso ou medida. Não há nada a priori por aí?

Domingo, 9 de Fevereiro 2014, 14h18