Tuesday, December 16, 2014

fim do mundo/recomeço do mundo



Estávamos todos juntos, a jantar cá fora, no páteo da nossa casa, a noite estava magnífica e quente, e de repente paf! Tudo se apagou. Pensámos todos que tinha sido um apagão geral de electricidade em toda a aldeia, mas foi até a filha pequena do Jorge que perguntou: onde estão as estrelas, pai?
Foi a coisa mais estranha que aconteceu até hoje. O mundo ele mesmo tinha-se apagado! (momento de um zoom out do planeta terra para toda a galáxia onde se vê que a terra se apagou realmente). O mundo inteiro, o planeta ele mesmo, tinha acabado!! Mas nós continuávamos a existir! Não era de todo o apocalipse prometido! Nada disso. Era muito mais forte, muito mais calmo também. O mundo estava cansado. O mundo estava a dizer basta, vamos recomeçar tudo de novo, ok? Ninguém falou e no entanto tenho a certeza que todos pensámos o mesmo, porque eu fui invadida por uma vibração gigantesca de amor e de calma. Parar. Respirar. Apagar. Recomeçar. Reinventar. Sim: reinventar!! Recomeçar bem, recomeçar o mundo todo segundo a utopia! Era agora a grande e única hipótese. Afinal a utopia tinha lugar!!! Que excitação!
Acabar com a politica?? Não, claro que não! Mas refazê-la, definir melhor os seus moldes. Repensar a vida! Ahhhhhhhhhhhhhhhhhh que alivio…
Mas logo a dúvida se instalou: e será que todos vamos chegar a um consenso?
Não faço a mínima ideia. Neste momento só sei que quero acreditar e agir toda impregnada dessa crença tao forte e tao linda de que o mundo está efectivamente nas nossas mãos, passível de ser recomeçado do zero!!
Aliás, onde está a minha tablete de chocolate?

Sunday, November 30, 2014

reconquista mútua

descubro o sabor do mundo pela tua boca e deixo-me assim invadir pelas suas fragancias e texturas, numa mistura deliciosa do fora com os teus labios. consagro nesse beijo todo o nosso amor, agora revolto, agora redescoberto, agora redefinido. e é nessa ressaca do amor que te escrevo. porque depois do tumulto, há sempre uma calma que recai sobre os corpos, uma espécie de apaziguamento da guerra que adoça um pouco a alma. respiro fundo. fumo um cigarro, deitada no sofá. foi um fim de semana intenso. mas valeu tanto a pena! sim, é isso mesmo: a violencia que vivemos fez-nos perceber a ambos (creio poder afirmá-lo também por ti) que de facto vale mesmo a pena estarmos juntos!
sim, errei. alias, assumi logo. e sim, tu erraste também, como também assumiste. podemos concluir: sim, ambos errámos, ambos nos ferimos, ambos nos traímos, ambos magoámos o outro, ambos desrespeitámos o outro. desiludimo-nos mutuamente. mas o que foi lindo, foi ver que nessa desilusao mútua, ambos decidimos que seria impossível nao voltar a construir tudo de novo! e agora, mais que nunca, sentimo-nos ligados. ambos precisamos de calma, ambos precisamos de voltar a sentir confiança. mas há uma certeza mais forte que conquistámos: é a de que vamos construir juntos este nosso amor! vamos ao encontro um do outro com mais convicçao, com mais garra, com mais vontade, mas acima de tudo, com mais clareza, honestidade e amor. ambos temos agora pela frente a reconquista um do outro, a reconquista da confiança um do outro, a reconquista do nosso ninho.
e dito isto, enrosco-me a ti e adormeço nos teus braços, onde o mundo todo recomeça, porque tu és o ponto do universo onde eu quero estar, nha kretcheu.
https://www.youtube.com/watch?v=sShXojmbjyo&spfreload=10

Thursday, November 27, 2014

a verdade da mentira

e depois de tudo, apercebo-me de que há uma imensa verdade na mentira. e é nesse momento que percebo de que lado quero estar. eu quero estar ao teu lado. mas e tu? aguentas a minha mentira? aguentas a minha verdade? a nossa verdade?

Monday, October 27, 2014

a infelicidade como um estado de coisas

sim, tenho muitos amigos, sim, os meus amigos sao grandes amigos, daqueles que estao lá para ti quando mais precisas, sim, estou feliz com a minha vida, sim, nao tenho razoes de queixa até porque há sempre pior e bem pior, sim, é verdade, até tem estado bom tempo, sim, ainda há dias recebi aquela boa noticia, sim, em breve farei a tal viagem que tanto desejava, sim, tenho-me aguentado, sim, vivo acima da média do meu país, sim, tenho sido uma privilegiada ao longo da minha vida, sim, tenho a minha família toda comigo, sim, até tenho um namorado super querido e presente, sim, sim, sim!
e nao: nao estou feliz!!! pode ser??? posso dizer que nao estou feliz??? posso???
e sabes porque é que nao sou realmente feliz? é porque nao me sinto útil em nada. tenho um trabalho oco, que poderia servir para multidoes, mas que está cingido a elites pedantes que já vomito pelas tripas da minha alma. poderia depois servir para ser uma boa mae, mas nao tenho essa paciencia. é. é isso mesmo. nestas condiçoes, nao tenho. já nao. vou sendo boa mae, na medida do possível. e isso é desgastante! poderia, em terceiro caso, ser uma boa filha, subserviente, mas parece que o meu carinho nao é suficiente para consolar quem mais precisa... poderia ainda ser uma boa amante, uma boa namorada, sei la!, mas até isso eu sei estragar e destruir tudo porque parece que o amor, definitivamente, nao é para mim. poderia ser uma boa voluntária, ajudar os carenciados, mas nao suporto esmolas e prefiro lutar por um estado social que elimine de vez esta necessidade tao injusta. poderia ao menos ser uma boa dona de casa, mas nao tenho esse perfil. enfim, poderia ser alguma coisa, mas vou sendo coisa nenhuma.
percebes agora o meu estado? entao va, passa-me lá o chocolate.

Friday, October 17, 2014

a metafísica do amor

sim, é verdade, sou mesmo assim. chama-me de ingénua ou infantil, ok, aceito. mas eu quero continuar a acreditar no amor. e sim, para mim amor é transparência e partilha. tudo o resto é bullshit!
e estou pronta a correr o mundo todo à procura desse amor! sim! mas também estou pronta a tudo se encontrar esse amor, aqui. sim, é o amor que me move! sempre foi! nao é o ego, a carreira, os valores-sei-la-de-que, ou ainda pior, o dinheiro. estou-me a lixar para isso tudo em nome do amor. e nao, nao é uma questao de anulaçao de mim! de todo! é o contrário! é que eu so funciono no e com amor, e portanto sei que a filosofia que faz parte de mim, assim como o riso e a gargalhada, a música e a dança e todos os inúmeros e múltiplos projectos que quero realizar, só fazem sentido num contexto do amor.
sim, é tudo muito fatela o que estou a dizer. é. reconheço. mas o amor para mim é uma questao primária da ontologia.

Tuesday, October 14, 2014

poema em tempo de guerra

ando isolada, sem saber do resto do mundo todo que de repente perdi
a guerra separou-nos, a mim, a ti e a toda a gente!
na sua ferocidade, arrancou-nos a ferros do nosso lugar
tornou-nos filhos de um parto dificil e de um aborto ainda mais insuportavel

mas depois, de vez em quando, existes tu, sob a forma de palavra muda
os teus poemas têm chegado a mim sabe-se lá como!
recuperados das trincheiras, salvos do sangue, chegam às minhas maos como que em auxilio
aconchego-os como que repetindo as nossas tardes em que te deitavas sobre mim
e eles devolvem-me essa felicidade perdida, mas ainda quente, de te ter ao meu lado
os teus poemas sao como que o resgate da tua presença. por eles consigo voltar a escutar a tua voz e imaginar os teus labios a proferir cada sílaba
eles recuperam com uma nitidez incrivel os nossos beijos intercalados pelas nossas longas conversas sobre tudo e mais alguma coisa!
os teus poemas acariciam-me como as tuas maos, percorrem o meu corpo com o mesmo prazer com que tu o fazias, e eu sinto-te intensamente através deles...
os teus poemas... os teus poemas és tu e o mundo todo neles!
os teus poemas sao o meu refúgio, o meu lar, a minha memória de vida!
e assim vou sabendo do mundo e assim vamo-nos amando, na cadência das estrofes, por entre a sintaxe dos teus poemas.

Sunday, October 05, 2014

Dormir não é para todos



Madrugar a noite inteira
Destilar o corpo aos pedaços
Ressacar o sono, enebriar os poros e sugar a lucidez. assim. devagar. a conta-gotas
Todo tu és dormente, dormente de ti mesmo, dormente das horas e dos seus sentidos perdidos, dormente de futuro porque todo tu és presente
Afinal, os sinos não dobram por ti e os cavalos abatem-se à força toda, sem piedade
A vida, essa, pode até ser cor-de-rosa, mas deve andar muito manchada ou foi pintada já de outra cor, porque dela já não transparecem quaisquer manifestações de alegrias ou outras sinergias que rimem com belos dias.
E perante isto tudo, tu vais resistindo. Lutas contra o sono numa ânsia de não deprimir, para estimular a loucura e enraivecer a hiperventilação.  Até já estás viciado na insónia e na velocidade do tempo sem tempo. Gostas de testar os limites, não é? Gostas de ir até às ultimas consequências de ti e dos teus actos ao desbarato, não é? A loucura, ai a loucura! Carpe diem e wild world para ti também. On the rocks até!, babe, que eu cá vou mas é dormir.

Thursday, October 02, 2014

meio-dia

tenho que me despachar! tenho que me despachar! tenho que me despachar! mas porque é que nao passo desta frase? mexe-te! vá, mexe-te! abana-te, rapariga! go-go-go! caramba! o que é isto? que inércia é esta??? o que se passa???

onde está a frase seguinte? alguem viu?

Tuesday, September 16, 2014

sopro

é estranha, esta sensaçao de falta de confiança em mim. tento libertar-me dela a todo o custo, mas ela persegue-me que nem loba faminta. imagino cenários, deliro nas minhas emoçoes, entrego-me a tudo e mais alguma coisa, desdobro-me em multiplas perspectivas, até exercito o desencanto pelo mundo e pelas coisas, mas nada! a palavra percorre-me e arranha-me como uma lâmina, por todo o meu corpo, deixando invariavelmente a minha pele arrepiada e a minha alma petrificada. Absolutamente bloqueada, demoro eternidades a processar. vou experimentando a calma, tateando uma qualquer imitaçao de um estado relaxado e descontraído. mas nada! nada! tudo é sofreguidao de calma, pesadelo de felicidade, angústia de amor, ansia de liberdade!
sufoco do próprio bloqueio.
corrijo-me
enervo-me comigo mesma. tento controlar-me!
tem juízo, Catarina! tem mas é juízo!!! descontrai!!!
e quanto mais repito esta lenga-lenga dolorosa e castradora, mais bloqueio, mais me embrenho toda em mim, como se eu fosse ao mesmo tempo a aranha que cospe a teia e se enrola para nela morrer.
e de repente, começo a ouvir ainda de forma longínqua o amolador. ha muito tempo que ele nao passava por aqui. aquele som invade-me como uma espécie de sopro de vida, um sopro de um outro tempo, um tempo do mundo, um tempo que acontece fora de mim e me define como a minha própria dobra. e eu relaxo e eu entrego-me e eu amoleço e eu deixo-me suavizar pela sua brisa e eu torno-me dócil à força da vida e eu deixo-me domesticar por ela e eu entrego-me nua de olhos bem vendados, fazendo daquela melodia o ritornelo do meu prazer agora redescoberto.
sim, existo. sim, sou para lá de mim. sim, tenho um minimo de confiança, afinal, outra vez, apesar de tudo e finalmente.

Tuesday, September 09, 2014

prescrevi ou existencia fora de prazo



Hoje acordei com uma sensação meia estranha entre o enjoo/náusea e a tristeza. Era uma sensação inédita para mim. Lá me sentei, tomei o pequeno-almoço e fui ver as novidades na internet. Mas a sensação continuava. Mantinha-se igual, num estado de latência morna.
Tentei não dar muita importância, imaginando que aquela sensação se dispersaria por si mesma. Mas nada! Tudo se mantinha, se é que não piorava até. Estava definitivamente a sofrer de uma crise existencial!
Foi então que de repente uma frase me invadiu a atenção: prescrevi. Eu pres-cre-vi! Eu própria, enquanto pessoa, prescrevi! Passei do prazo, kaput! Estou estragada, podre, prescrevi!!!
Não foi um processo exterior a mim, não foi uma multa, não foi um medicamento, não foi uma relação qualquer que tivesse acabado, não! Nada disso! Fui eu mesma que prescrevi. Prescrevi…

Thursday, September 04, 2014

tu que me defines



Quase todos os dias acontece-me o mesmo: vagueio pela minha cabeça, à procura de alguma coisa-que-nem-sei-bem-o-que-é-mas-é-provavelmente-importante-senao-não-a-procurava-todos-os-dias. É isto que me acontece e é esta a melhor definição que tenho para aquilo que procuro. A exactidão nunca foi um dos meus fortes e o tempo escorrega-me das mãos como agua, pelo que me vou deixando ficar, encostada à curiosidade, como quem descansa sossegadamente nos ombros de um gigante, sabendo que a vista será sempre magnífica. Sim, não é por acaso que digo gigante, porque sempre adorei subir aos ombros de gigantes! Tenho esse péssimo habito desde pequenina e creio que é devido a ele que eu não me consigo adequar à vida e a estas coisas a que chamam leis e normalidade. Acho isto tudo muito imoral e desinteressante. E o problema é que sempre fui uma aficcionada de tudo o que está para lá do bem e do mal, e das suas regras e costumes. É tao bom explorar os limites, não é?
Enfim, mas dizia eu que procuro incessantemente algo que nem sei o que é. E isso provoca em mim uma dúvida enorme, diria mesmo irresolúvel, porque eterna: como procurar algo que se desconhece? Ou será que o facto de procurar algo já significa que se encontrou esse algo, mesmo que ainda só de forma virtual? Serei eu platónica e portanto condenada ao fracasso da minha busca ou uma deleuziana e portanto feliz por me saber emaranhada numa teia virtual de acontecimentos possíveis e de encontros improváveis?
E neste processo meio cartesiano de exploração de mim como essa espectadora da sua própria descoberta, redescubro um novo prazer: o de me deixar seduzir pela perdiçao, o de me deixar conduzir pelas tuas mãos, o de me perder no teu olhar e sentir-me de novo no leve toque dos teus lábios que entretanto percorrem sofregamente todos os meus recantos e me indicam o caminho da fusão dos nossos corpos e de toda a cadencia violenta com que me redefines.

Wednesday, September 03, 2014

amor de morte



Diz-me: achas que te faria feliz? Terias sido mais feliz se tivesses vindo comigo? Se tivéssemos experimentado viver juntos? Se tivéssemos, no fundo, dado alguma hipótese ao nosso amor? Ou será que o nosso amor se teria alterado e quem sabe destruído assim que deixasses a tua família? Será então que o nosso amor perdura porque foi ou tem sido impossível? E os nossos beijos? O que fazer com os nossos beijos??? Beijar outros e outras na esperança que sejam os nossos? É isso? Passar a vida inteira nesta impossibilidade, mante-la como o nosso grande animal de estimação. Amor como bibelot, amor como fétiche, amor como aquele pequeno detalhe que nos anima por dentro mas que não podemos partilhar com mais ninguém. É isso que sentes? É isto que queres? É que para mim o amor é para ser vivido intensa e livremente! Quando encontro alguém que amo, gosto de estar com essa pessoa, é com ela que quero partilhar a minha vida, as minhas alegrias e dificuldades, suspiros e gemidos, cheiros e vivencias! Amar, para mim, é partilhar!! Só assim consigo amar! Sem mentiras, sem disfarces, sem medos!
Mas ok, manteremos esta dúvida para sempre, até ao dia em que te for buscar ao hospício, ambos já velhos, para então vivermos o nosso amor para morrer.